sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Guerra preventiva é mau negócio


Em 1914, o comando estratégico alemão decidiu-se por iniciar uma guerra, pois considerava que seu mais temido inimigo, a Rússia, estaria se armando numa escala que logo anularia a supremacia militar alemã. De acordo com os militares germânicos, no ano de 1916 (se nada fosse feito) a Rússia tornar-se-ia invencível.
Por isso, quando os sérvios e os austríacos se desentenderam nos Bálcãs, a Alemanha decidiu agir enquanto se considerava em vantagem militar, arrastando o planeta a um conflito que resultou em 37 milhões de baixas. E o que é pior (para os alemães): eles perderam a guerra!
Depois da Segunda Guerra Mundial, conforme a União Soviética se habilitava a produzir armas nucleares, os Estados Unidos foram dominados por um pânico que durou muitos anos. Os estadunidenses consideravam que o radicalismo comunista tentaria destruir os valores liberais de maneira irracional, agressiva e sem qualquer preocupação com a vida humana.
Um embaixador britânico (Harold Nicholson) verbalizou esse sentimento da seguinte maneira, em 28 de novembro de 1948:
É provavelmente verdade que a Rússia está se preparando para a batalha final para o domínio do mundo e que, depois que tiver à disposição um número suficiente de bombas, destruirá a Europa Ocidental, ocupará a Ásia, e se dedicará a uma luta até a morta contra a América. Se isso ocorrer e nós formos eliminados aqui, os sobreviventes na Nova Zelândia dirão que fomos loucos de não termos evitado isso.
Hoje em dia, Israel considera seriamente a ideia de realizar ataques preventivos contra o Irã, utilizando argumentos extremamente semelhantes aos do velho diplomata inglês e com ideias estratégicas similares às enunciadas pelo comando militar alemão, há um século.
A história nos diz que os revolucionários internacionalistas e marxistas de Moscou, os autocratas insanos da Coreia do Norte e o exército paquistanês (que apoiava, e apoia, terroristas) foram todos dissuadidos pelo temor da destruição mútua. Por mais que associemos o governo de Mahmoud Ahmadinejad ao desvario, ele é muito menos maluco do que Mao Tsé Tung, na China. Lembremos que na última década ocorreram milhares de atentados à bomba, cometidos por suicidas sauditas, egípcios, libaneses, palestinos e paquistaneses e não há qualquer relato de ataques suicidas cometidos por iranianos. Eu me pergunto qual seria a probabilidade do regime iraniano ser o primeiro a disparar mísseis, mesmo que os obtivesse em poucos anos?
Israel está diante do mesmo dilema que os EUA enfrentaram há seis décadas. Esperemos que o governo israelense tenha a mesma sabedoria em reconhecer que não há segurança absoluta em nossa era nuclear. E que se é impossível atrasar ou prejudicar o programa nuclear do inimigo, a dissuasão é menos desastrosa do que a guerra preventiva. Guerra preventiva é mau negócio.

Ney Vilela – coordenador regional do Instituto Teotônio Vilela


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